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Do silêncio de Copacabana às vozes dos esquecidos: os 12 anos do papado de Francisco

No dia 13 de março de 2013, o mundo assistia à fumaça branca subir da chaminé da Capela Sistina e anunciava ao mundo o início de um novo tempo para a Igreja Católica. Jorge Mario Bergoglio, o cardeal argentino de Buenos Aires, tornava-se o Papa Francisco — o primeiro pontífice vindo da América Latina, o primeiro jesuíta, e o primeiro a adotar o nome do São Francisco de Assis, símbolo de humildade, paz e cuidado com os marginalizados.

Doze anos depois, o legado de Francisco se impõe como um dos mais transformadores da história recente da Igreja. Um papado marcado por gestos simples, reformas ousadas e pela incansável busca por uma Igreja mais próxima dos pobres, dos jovens e das mulheres.

O silêncio de milhões de jovens

Logo no início de seu pontificado, em julho de 2013, Francisco protagonizou um dos momentos mais emblemáticos da história da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Em uma praia de Copacabana lotada por mais de 3 milhões de pessoas, o novo Papa fez o mundo se calar. Durante uma vigília emocionante, após palavras que tocavam o coração da juventude, pediu silêncio. E foi obedecido.

Foram minutos que pareciam eternos. Um mar de jovens, acostumados ao barulho e à euforia, em reverência absoluta. O gesto de Francisco não foi apenas simbólico: foi um chamado à escuta — de Deus, de si mesmos e dos outros. Era o início de um novo estilo de liderança espiritual.

A voz dos esquecidos

Francisco não se fechou nos muros do Vaticano. Pelo contrário: fez questão de atravessá-los. Tornou hábito caminhar pelos bairros mais pobres de Roma, muitas vezes sem alarde, ouvindo moradores em situação de rua, migrantes, trabalhadores explorados, mães solteiras e idosos abandonados.

Suas homilias, discursos e encíclicas ecoaram essa opção pelos últimos. Em Evangelii Gaudium (2013), denunciou a “economia da exclusão”; em Laudato Si’ (2015), clamou por uma ecologia integral e justiça social; em Fratelli Tutti (2020), pediu fraternidade universal num mundo fragmentado.

Francisco tornou-se a voz dos sem-voz. Um pastor que cheira a ovelha — como ele mesmo dizia que todo padre deveria ser.

Mulheres no centro do Vaticano

Um dos aspectos mais revolucionários do papado de Francisco foi a inclusão feminina em cargos de liderança dentro da estrutura do Vaticano, tradicionalmente dominada por homens. Nomeou mulheres para postos estratégicos na Cúria Romana, incluindo subsecretárias em importantes congregações, conselheiras econômicas e até membros com direito a voto no Sínodo dos Bispos — algo inédito na história da Igreja.

Embora as ordenações femininas ainda não estejam no horizonte imediato da Igreja, Francisco abriu espaço para uma reflexão profunda sobre o papel da mulher na vida eclesial. Reconheceu o machismo estrutural dentro da instituição e propôs uma “teologia da mulher” mais ampla e respeitosa.

Um papado de escuta e reforma

Francisco enfrentou resistências internas e crises globais. Enfrentou escândalos de abuso sexual com mais transparência, reformou o sistema financeiro do Vaticano, simplificou processos de anulação matrimonial e incentivou uma Igreja sinodal, onde todos são chamados a participar e discernir juntos.

Seus críticos o acusam de relativismo. Seus defensores o veem como o pastor de uma nova primavera da fé. Mas há um consenso: Francisco mudou o rosto da Igreja Católica no século XXI.

Um papa de gestos e sinais

Do quarto simples na Casa Santa Marta, onde escolheu viver ao invés do palácio apostólico, às suas constantes mensagens pelo fim das guerras, do preconceito e da desigualdade, Francisco seguiu o caminho de Jesus: com os pés na terra e o coração no céu.

Em doze anos de pontificado, não apenas guiou a Igreja — fez dela uma casa mais aberta, mais humana e mais próxima da dor do mundo.

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